sexta-feira, 25 de janeiro de 2013


Leminski gostava muito de falar de poesia na própria poesia, se preocupava com o fazer poético. Em seu livro Distraídos Venceremos, o primeiro e segundo capítulo são dedicados aos metapoemas. Neste livro seus poemas continuam, assim como em Caprichos e Relaxos, com os jogos de palavras que dão diferentes sentidos a uma mesma expressão, uma de suas principais características.

Em m, de memória, no seu jogo de palavras vemos a sua literatura e rememoramos a literatura dos vários outros autores que cita.


m, de memória

  Os livros sabem de cor
milhares de poemas.
     Que memória!
Lembrar, assim, vale a pena.

     Vale a pena o desperdício,
Ulisses voltou de Tróia,
     assim como Dante disse,
o céu não vale uma história.

     Um dia, o diabo veio
seduzir um doutor Fausto.
     Byron era verdadeiro.
Fernando, pessoa, era falso.

     Mallarmé era tão pálido,
mais parecia uma página.
     Rimbaud se mandou pra África,
Hemingway de miragens.

     Os livros sabem de tudo.
Já sabem deste dilema.
     Só não sabem que, no fundo,
ler não passa de uma lenda.


Paulo Leminski em distraídos venceremos

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